Cabine vazia
No desenho
da vida humana diferentes são as fases de manifestação. Os extremos infância e
velhice sinalizam começo e fim de especial viagem pilotando uma nave
chamada corpo em sua cabine de comando chamada cérebro. Entre tais extremos, a
juventude e a vida adulta pontuam o funcionamento da nave em seu apogeu
enquanto sistema, condição que reúne o conjunto dos mecanismos devidamente
encadeados e saudáveis para funcionar em sua plenitude. No ciclo do nascer-morrer
cumpre ao piloto o maior dos ganhos, o papel de acumulador da experiência, a memória
das estradas, estímulos e impressões colhidas. Sim, pois a nave-corpo já nasce
com um ciclo de vida útil determinado e nem suas células neuroniais poderão
lutar contra o desfazimento pontual da morte e a perda dos registros efetuados.
Na caixa-preta da memória do piloto, entretanto, tudo guardado, acumulado e
seguro. Sendo o maior interessado na riqueza da viagem e, portanto, por
extensão, o investidor-mor adquirente da nave-biológica cíclica, qual lógica
existiria na má administração do funcionamento desta, na sua falta de
manutenção ou até, em máximo desvario, no colocar de areia dentro de seu motor
central? Só máximo alheamento e obnubilação da realidade explicaria tal
quadro, ilustrado ainda nos nossos tempos pelo comportamento autonocivo do jovem
e sua inconsistência lógica. Isso exatamente na fase onde seu sistema vive um
apogeu de possibilidades: nenhum muro, fronteira ou linha de horizonte se
apresenta como limite; nenhuma lei científica ou dogma cultural lhe parece
inamovível. Extremo desperdício a comprometer os anos futuros onde o maior
centramento substituirá a ditadura dos hormônios. Tempo inaproveitado para a
identificação da linha mestra evolutiva desenhada para si em tempos de maior
lucidez.
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