Olhos no ontem

A sedentariedade do homem criou as cidades. Da imposição gradual de sua vontade ao ambiente restaram dominadas rotineiramente as espécies destinadas ao alimento. E o nomadismo anterior foi substituído pela concentração de muitos indivíduos num mesmo lugar. As cidades surgiram, assim, para além da força de entrepostos e rotas comerciais, com o fim de atender a maior densidade criada pela fartura alimentar e o aumento do percentual reprodutivo. Nem mesmo a mortalidade decorrente do convívio contínuo com os próprios dejetos mudou o curso da história: o homem não mais voltaria a ser nômade. Entendido o fator contaminante dos resíduos, as cidades se fortaleceram como manifestações aparentes das culturas dos povos e de suas riquezas; passaram a receber reformas estruturais com vistas à eliminação de problemas e à construção de paisagens agradáveis aos olhos. Belas cidades do passado foram símbolos de ostentação e poder e, sobretudo, denotaram a cosmovisão de seus reis, eclesiastas e mandatários. Hoje, na paleta de necessidades do homem moderno, muitas delas restam anacrônicas, mas subsistem pela força das energias acumuladas por gerações. Por isso mesmo são transformadas em paisagens totais: ainda são coabitadas pelo homem, mas funcionam mais como janelas do passado.

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