O agora singular

Pisei no silício e marquei nele o formato do meu pé. Foi rápido. Quase nem notei o que havia feito. Ao apontar a lente para o chão, lá estava: desenho claro, contornos precisos denotando partes de maior e menor contato com a superfície. Manifestação de um pé de hominídeo. Sou um deles. Ocorre-me que nem sempre foi assim. Nunca pisei esse exato lugar; nunca tomei uma foto exatamente como essa e nunca escrevi sobre isso acercado das ideias como as que tenho agora. Tampouco sempre fui um hominídeo. De alguma forma estou fazendo algo novo no tempo, pois o agora é absolutamente singular. Na escala de transformação deste mundo não há espaço para inversões entre causa e efeito. O que está escrito, está escrito e a resultante disso é sempre algo sólido. Como um pegada de hominídeo no silício. Como os pensamentos, que, lançados, vasculham a pegada seguinte.

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