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Mostrando postagens de novembro, 2009

Intenso diálogo

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O encontro do mar e a terra é sempre especial. É fronteira onde cada um é seduzido a adentrar nos limites do outro. Como seres da superfície, movimentamos a costa e observamos o oceano pelas ondas. Os ventos unem os dois mundos, pois não há barreira a dividi-los. As ondas expressam os ventos e também a vontade temperamental do mundo balançante. Iludimo-nos de que a terra é tão mais firme. Jogam os dois o jogo do equilíbrio permanente, das mensagens passageiras e definitivas. Ambos se respeitam e, por consenso, se permitem invadir. A terra prepotente lança ao mar sua produção civilizatória. O mar regurgita à terra tudo o que não é seu e o faz com inocência e vigor. Como seres da crosta, movimentamos a superfície e dela tudo sabemos. Do mar pouco conhecemos. Tão útil seria ter-se o corpo anfíbio. Poder-se-ia construir cidades lá dentro e, assim, entender melhor o conjunto.

Sol asséptico

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Construiu-se o sol. Construímos as casas. Dentro delas depositamos pensamentos e emoções enquanto humanos. O mesmo sol bombeou luz para o corpo que tivemos; e o alimentou. Na mente do corpo elaboramos conceitos sobre o sol. Também sobre o desenho de casas. Pintamos elas para que o sol pudesse falar. Mas, sempre há um canto escuro, nelas, onde o sol não entra. Nem o sol-estrela, nem o sol-lucidez. E o pensado se deposita e se recusa a sair de lá. Acontece também com o que se sentiu. Novas pessoas no ambiente sem sol, velhos pensamentos se perpetuam. O que é incrustado não evolui. Melhor seria entendermos o sol como diferente a cada dia. E permitirmos que velhas casas deem lugar a novos pensamentos. O sol pode ser velho. O que pensamos, tem de andar.

Mundo pendido

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Quando ele chega muitos elementos o denunciam. O dia se inclina para o lado; vozes são emitidas mais altas; roupas secam mais rápido. É como se tudo se tornasse definitivo. Como se o mundo sempre tivesse sido assim. Ao hospedar-se por dias, reina absoluto e se implanta na pauta das pessoas. Passa a ser elemento de conexão entre elas: entre o exercitar-se vivo de um e o lamento-ladainha de outro. Faz-se pano de fundo para a vida e a crônica diária do lugar. Inabalável e dominador, por fim, leva muitos ao limite de sua própria aceitação. Mas, um dia o verdugo se vai. Com ele, as pressões que exerceu na fronte das pessoas. Na paisagem da orla, apenas suas pegadas no formato das dunas. É um mensageiro. Do lamento, talvez. De impressões e coisas, certamente. Alguém mais ao sul sabe o que pensamos.