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Mostrando postagens de julho, 2011

Recipiente móvel

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Só existe um oceano. Sem despencar para o espaço circula ele balançante montanhas que lhe vencem pela altura. Sua avidez e obstinação encontra limites apenas temporários, pois do material do qual é feito todo o resto é derivado. E o contorno das montanhas aos poucos e lentamente vai se deixando vencer. Ao ceder dos próprios pedaços ao oceano, a montanha impõe mudanças aos animais costeiros de superfície, aqueles que já desativaram seus filtros marinhos. No lento evoluir do conjunto, muito além de filtros de oxigênio, as mudanças alcançaram a primazia da inteligência adaptativa quase completa. Constrói-se pontes, muralhas de contenção e derrubam-se propositalmente pedaços de montanhas no mar. Desafia-se a dança das águas ao mesmo tempo em que se faz novo exercício de adaptação. Ainda assim, o oceano é um só. Sua força está em seu volume e em sua intempestividade. Também no fato de que seu ritual contínuo também é o da adequação: toma a forma de seu recipiente e se espraia por suas bo

Déjà-vu

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Muitas são as pegadas do homem no tempo da história. Em nosso lugar crescemos rodeados por conjunto delas e nos acostumamos rápido com isso, pois calamos os sentidos para os depoimentos do passado. Mas, a hibernação sensória se quebra quando nos distanciamos do ponto de origem, onde a zona de conforto dos olhos se esvai sem deixar vestígios. É quando o desenho do horizonte se apresenta diferente que ficamos suscetíveis à interpretação do que nos cerca. Ali lançamo-nos a passear entre a energia do momento e os registros de memória, e muitas vezes caímos no lugar comum dos que se sentem pequenos frente ao desconhecido. Costumo me perguntar, nestas horas, se o inquestionável impacto é por estar vendo algo novo de fato, ou revendo algo velho e absurdamente próximo pela cumplicidade de outrora. Como as certezas não se dizem sempre necessárias, deixo as energias e impressões fazerem novos registros de memória enquanto, motivado, continuo caminhando em meu transe lúcido.

Olhos no ontem

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A sedentariedade do homem criou as cidades. Da imposição gradual de sua vontade ao ambiente restaram dominadas rotineiramente as espécies destinadas ao alimento. E o nomadismo anterior foi substituído pela concentração de muitos indivíduos num mesmo lugar. As cidades surgiram, assim, para além da força de entrepostos e rotas comerciais, com o fim de atender a maior densidade criada pela fartura alimentar e o aumento do percentual reprodutivo. Nem mesmo a mortalidade decorrente do convívio contínuo com os próprios dejetos mudou o curso da história: o homem não mais voltaria a ser nômade. Entendido o fator contaminante dos resíduos, as cidades se fortaleceram como manifestações aparentes das culturas dos povos e de suas riquezas; passaram a receber reformas estruturais com vistas à eliminação de problemas e à construção de paisagens agradáveis aos olhos. Belas cidades do passado foram símbolos de ostentação e poder e, sobretudo, denotaram a cosmovisão de seus reis, eclesiastas e mandatár