Recipiente móvel


Só existe um oceano. Sem despencar para o espaço circula ele balançante montanhas que lhe vencem pela altura. Sua avidez e obstinação encontra limites apenas temporários, pois do material do qual é feito todo o resto é derivado. E o contorno das montanhas aos poucos e lentamente vai se deixando vencer. Ao ceder dos próprios pedaços ao oceano, a montanha impõe mudanças aos animais costeiros de superfície, aqueles que já desativaram seus filtros marinhos. No lento evoluir do conjunto, muito além de filtros de oxigênio, as mudanças alcançaram a primazia da inteligência adaptativa quase completa. Constrói-se pontes, muralhas de contenção e derrubam-se propositalmente pedaços de montanhas no mar. Desafia-se a dança das águas ao mesmo tempo em que se faz novo exercício de adaptação. Ainda assim, o oceano é um só. Sua força está em seu volume e em sua intempestividade. Também no fato de que seu ritual contínuo também é o da adequação: toma a forma de seu recipiente e se espraia por suas bordas.

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