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Mostrando postagens de 2011

Recipiente móvel

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Só existe um oceano. Sem despencar para o espaço circula ele balançante montanhas que lhe vencem pela altura. Sua avidez e obstinação encontra limites apenas temporários, pois do material do qual é feito todo o resto é derivado. E o contorno das montanhas aos poucos e lentamente vai se deixando vencer. Ao ceder dos próprios pedaços ao oceano, a montanha impõe mudanças aos animais costeiros de superfície, aqueles que já desativaram seus filtros marinhos. No lento evoluir do conjunto, muito além de filtros de oxigênio, as mudanças alcançaram a primazia da inteligência adaptativa quase completa. Constrói-se pontes, muralhas de contenção e derrubam-se propositalmente pedaços de montanhas no mar. Desafia-se a dança das águas ao mesmo tempo em que se faz novo exercício de adaptação. Ainda assim, o oceano é um só. Sua força está em seu volume e em sua intempestividade. Também no fato de que seu ritual contínuo também é o da adequação: toma a forma de seu recipiente e se espraia por suas bo

Déjà-vu

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Muitas são as pegadas do homem no tempo da história. Em nosso lugar crescemos rodeados por conjunto delas e nos acostumamos rápido com isso, pois calamos os sentidos para os depoimentos do passado. Mas, a hibernação sensória se quebra quando nos distanciamos do ponto de origem, onde a zona de conforto dos olhos se esvai sem deixar vestígios. É quando o desenho do horizonte se apresenta diferente que ficamos suscetíveis à interpretação do que nos cerca. Ali lançamo-nos a passear entre a energia do momento e os registros de memória, e muitas vezes caímos no lugar comum dos que se sentem pequenos frente ao desconhecido. Costumo me perguntar, nestas horas, se o inquestionável impacto é por estar vendo algo novo de fato, ou revendo algo velho e absurdamente próximo pela cumplicidade de outrora. Como as certezas não se dizem sempre necessárias, deixo as energias e impressões fazerem novos registros de memória enquanto, motivado, continuo caminhando em meu transe lúcido.

Olhos no ontem

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A sedentariedade do homem criou as cidades. Da imposição gradual de sua vontade ao ambiente restaram dominadas rotineiramente as espécies destinadas ao alimento. E o nomadismo anterior foi substituído pela concentração de muitos indivíduos num mesmo lugar. As cidades surgiram, assim, para além da força de entrepostos e rotas comerciais, com o fim de atender a maior densidade criada pela fartura alimentar e o aumento do percentual reprodutivo. Nem mesmo a mortalidade decorrente do convívio contínuo com os próprios dejetos mudou o curso da história: o homem não mais voltaria a ser nômade. Entendido o fator contaminante dos resíduos, as cidades se fortaleceram como manifestações aparentes das culturas dos povos e de suas riquezas; passaram a receber reformas estruturais com vistas à eliminação de problemas e à construção de paisagens agradáveis aos olhos. Belas cidades do passado foram símbolos de ostentação e poder e, sobretudo, denotaram a cosmovisão de seus reis, eclesiastas e mandatár

Nuvem alada

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Os pássaros são seres que impressionam. Como qualquer outro animal tem um lugar de origem e um itinerário para a busca do alimento de todo dia. Entretanto, comprometido seu habitat podem voar para longe, muito longe, migrar para lugares distantes e desconhecidos. A fome humana por espaços e áreas livres diminui continuamente a densidade de árvores e matas silvestres. Então pássaros não comem delas e de igual forma não ajudam a semeá-las. Perdemos todos. Mas, eles voam. Passam a buscar áreas onde o alimento ainda existe. Com o tempo se adaptam, passam a se reproduzir e a viver em seu novo lugar, até que os espaços sejam novamente tomados. Fico pensando nos animais que não possuem esse poder de deslocamento, no irreversível processo de antropomorfização dos ambientes e na abismal perda de diversidade do planeta. Tremendo processo de transformação se desencadeia em nosso tempo. E, sem volta. Resta a nós humanos a analogia destes seres maravilhosos: quando chegar nossa vez de mudarmos de

Rastro amigo

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Yo pedaleo porque me gusta. Mi casa es la playa y el mar mi jardín. Mientras las ruedas hacen el sendero en la arena, el viento tómame la cara y la salinidad alimenta los poros de mi piel. Es mi manera de decir al ambiente y a su mosaico de seres que soy parte de ello y que podemos vivir de manera sinérgica y armoniosa. Se acaba el sendero y me voy al océano. Con la misma mentalidad me movimiento en el mundo líquido, indiferente a los cerros de la profundidad y con miles de peces nadando bajo a mí. Mis nadaderas son mis brazos y piernas y no prescindo del aire de la superficie, pero también allí busco dejar un rastro amistoso por donde me voy. Salgo del agua y allá está mi bici a esperarme, quieta, callada, sin hambre y invitándome a usarla. Es un placer y una motivación permanente para el vivir… hacer el uso de ideas y herramientas amigas del mundo.

Rotina fendida

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Estar atento a tudo o que acontece a poucos centímetros dos olhos é tarefa desafiadora. No labirinto da intelectualidade não cabem muitos focos simultâneos de atenção; sim, ainda não lemos 'em bloco' a realidade circundante. Somos prisioneiros das frequências de nossos sentidos básicos somadas às motivações relacionadas à subsistência e ao conforto psicológico. Ainda assim, quando uma fenda em tal conjunto de escolhas se abre, mesmo que por mero instante, nos damos conta da beleza contida no espaço exterior: a força vital que nos anima é a mesma que infla e pulsa toda forma de vida. Percebemos, nessa hora, que nosso universo individual mais se parece, não obstante habitada com dedicada rotina, a uma casa de janelas fechadas.

Lo que me rodea

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Es un camino alternativo para la ciudad. Allí no hay carretera tampoco manera de dislocarse sin oír el mar hablar muy fuerte o sin pegarse arena en los zapatos. Tres quilómetros apartan la mudez de mi casa y la bulla de la vida comercial y productiva de muchas personas agrupadas. Pero, no hay como irme a hacer algo en la urbanidad; todo lo que necesito está en el camino hasta ella, en la ruta hacia ella. Es siempre así: me digo que voy, empiezo la caminata, el tiempo pasa y la lejanía no se acaba. Cuando lo veo, las cosas a mi alrededor ya me tomaron como parte del todo y ya no necesito de las personas para sentirme vivo y actuante. La vida y su tela compleja se manifiesta bajo mis ojos; soy parte de ella y me gusta eso. Vuelvo a mi casa y el día ya se fue, no he llegado a mi destino inicial y a las personas no las miré. Conmigo sólo regresan la vivencia y la cámara cargada con los cuadros que me lo absorbieron. Y las cosas así se repiten, día luego del otro. Hoy me siento rehén del ti